Faz muito tempo que o sistema de leitura e cobrança dos custos de energia nas residências brasileiras é a mesma: um funcionário que vai de casa em casa todo mês para ler os números indicados no medidor de luz, uma espécie de relógio de conta giros e que, na maioria dos lares brasileiros, possui uma mesma tecnologia há mais de trinta anos. A questão importante dessa lacuna tecnológica é que, para o consumidor final, é quase impossível fazer um gerenciamento diário de seu consumo. E também não há indicação de quais os horários e equipamentos em que há maior gasto, já que essa espécie de medidor não está habilitado para tal funcionalidade.
Essa falta de conexão direta com a concessionária de energia também impede o monitoramento da rede de energia em tempo real, como ter a capacidade de identificar com mais rapidez qualquer caso de interrupção, falha de abastecimento ou picos de luz, sem ter que obrigar o consumidor a alertá-la toda vez que falta energia na sua residência.
Realmente já é hora de melhorar esse sistema. É nesse sentido que está caminhando o incremento tecnológico na gestão do fornecimento de energia chamado de Redes Elétricas Inteligentes (REI) ou “smart grids”. Estas trazem uma nova arquitetura de distribuição de energia, mais segura e inteligente, em que o fluxo de energia se dá de forma bidirecional.
Além disso, uma rede elétrica inteligente permite uma maior integração entre as fontes que produzem energia. Isso significaria que, por exemplo, a energia produzida pelos consumidores, a exemplo dos painéis solares de uso doméstico, poderá ser utilizada não só para fornecer energia para aquela residência, mas também para a rede como um todo. O consumidor então poderá ser remunerado por isso.
O governo brasileiro está de olho nas vantagens dessa nova tecnologia. Em 2013, na 6ª convocatória do
Projeto Apoio aos Diálogos Setoriais União Europeia-Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) apresentou uma proposta de ação com a intenção de conhecer e trocar experiências com a Comunidade Europeia sobre as várias tecnologias e metodologias de aplicação que envolvem as REI.
Em 2014, durante a 7ª convocatória dos Diálogos Setoriais, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) deu continuidade ao projeto com uma proposta de ação de mapeamento de empresas, universidades e laboratórios de pesquisa com potencial para firmar projetos de cooperação com o Brasil no desenvolvimento e produção de novas tecnologias ligadas às REI. Já em 2015, na 8ª convocatória, foi a vez de conhecer a regulação de REI na Europa. “A legislação, quanto mais harmônica entre Brasil e Europa, mais pode haver o fluxo de conhecimento, produtos, empresas e tecnologias entre os países”, explica Eduardo Soriano, Coordenador Geral de Tecnologias Setoriais do MCTIC.
Além de duas edições de um evento internacional sobre Smart Grids com um público de estudiosos, empresas e especialistas de diversos países do mundo, incluídos países de fora da Europa e da América do Sul, as ações também permitiram a elaboração de documentos por peritos contratados.
Um deles se tornou referência da Diretoria de Regulação da ELETROBRAS, grupo responsável pela geração de boa parte da energia do País. O
segundo estudo, finalizado em agosto de 2016, visa subsidiar as tomadas de decisões relacionadas à Regulação das REI no Brasil.
A partir desses documentos e das missões realizadas, estão sendo elaboradas, no âmbito de um Grupo de Trabalho que envolve, entre outras instituições, o MCTIC, o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica, legislações e outros normativos que vão regular as redes inteligentes brasileiras. E com todo o trabalho que já vem sendo desenvolvido e que já está sendo implementado em algumas cidades no Brasil, como em São Paulo e no Rio de Janeiro, não vai demorar muito para que os medidores digitais e essa nova interligação inteligente chegue a todas as casas brasileiras. É uma ação dos Diálogos Setoriais voltada para melhorar o dia a dia da população, contribuir para a melhoria e maior eficiência na gestão e entrega da energia elétrica e também propiciar uma produção e distribuição mais sustentável.